Ano Novo, Metas Novas: Como Construir um Futuro Alinhado aos Seus Desejos
“O futuro não é um lugar para onde estamos indo, mas um projeto que estamos construindo.”
Considerações iniciais:
A frase de Antoine de Saint-Exupéry nos convida a refletir sobre o futuro como uma construção contínua, um espaço moldado por nossas escolhas e ações no presente. Escrita em um contexto de guerra, em uma época marcada pelas transformações tecnológicas e pelos horrores da Segunda Guerra Mundial, essa ideia ressoa como um grito de esperança e responsabilidade diante do caos. Saint-Exupéry, com sua visão poética e existencial, ecoa pensamentos de filósofos como Sartre, para quem a liberdade humana carrega a angústia de decidir e de criar sentido em um mundo sem garantias.
Todos os anos, somos compelidos a recomeçar. Fazemos promessas e resoluções, acreditando que o próximo ano será diferente, que erros serão corrigidos e metas finalmente alcançadas. Essa prática não é meramente moderna, mas profundamente enraizada na condição humana. Na psicanálise, Freud já destacava o desejo de “reparar”, um impulso ligado ao Superego, que nos orienta para a superação de falhas e busca por ideais. Na terapia cognitivo-comportamental (TCC), a construção de metas claras e alcançáveis reflete esse mesmo desejo, transformando aspirações em mudanças concretas.
Do Desejo à Conquista:
A busca pelo futuro, tão presente nas resoluções de ano novo, não é um fenômeno moderno. Suas raízes se estendem até a Antiguidade, quando os romanos celebravam Jano, o deus das transições e começos. Representado com duas faces, uma voltada para o passado e outra para o futuro, Jano simbolizava a capacidade humana de refletir sobre o que já foi vivido enquanto se projeta para o que está por vir. As resoluções feitas em sua honra, no início do ano, não eram apenas um ritual; eram um marco de renovação, uma forma de afirmar a importância de aprender com os erros e ajustar os passos para os novos caminhos. Essa prática evidencia uma característica fundamental da nossa condição: a necessidade de encontrar significado no que passou e a coragem de planejar o que virá.
Na filosofia, essa ideia é aprofundada por pensadores como Martin Heidegger, que nos lembra que o ser humano é, essencialmente, um “projeto” em constante construção. Para Heidegger, existimos em um estado de “ser-no-mundo,” onde nossas escolhas e ações moldam continuamente quem somos e quem podemos nos tornar. O futuro, nessa perspectiva, não é um lugar ao qual chegamos passivamente, mas um horizonte de possibilidades que criamos ativamente, muitas vezes impulsionados por nossas experiências passadas e desejos presentes. Essa visão nos convida a enxergar as resoluções e promessas como mais do que desejos superficiais; elas são expressões do nosso compromisso com o processo de nos tornarmos melhores, mais conscientes e mais alinhados com nossos valores.
Prometer um ano melhor, então, é um gesto de esperança e responsabilidade. É um ato que vai além de meras palavras, pois envolve a afirmação de nossa capacidade de moldar a realidade e de agir como protagonistas da nossa própria história. No entanto, por que tantas dessas resoluções, feitas com sinceridade e esperança, acabam esquecidas ou não cumpridas ao longo do ano?
A psicanálise oferece uma chave profunda para compreender o que está por trás das promessas que nunca se concretizam. Muitas vezes, o desejo de mudança não é completamente autêntico ou livre, mas está associado a um ideal de perfeição que foi internalizado de maneira inconsciente. Freud identificou essa cobrança interna como uma manifestação do Superego, uma instância psíquica que regula nossos comportamentos de acordo com padrões e valores internalizados, frequentemente herdados de figuras de autoridade, como pais, professores ou a sociedade em geral. O Superego, ao exigir um padrão elevado de perfeição, pode gerar um conflito interno que resulta em frustração e autossabotagem.
Imagine alguém que constantemente promete que “vai ser mais produtivo no próximo ano,” mas nunca consegue manter esse compromisso. Esse desejo pode ser alimentado por uma voz interna que diz: “Se você não for excepcional, não vale a pena tentar.” Sob essa pressão, qualquer erro ou desvio do plano inicial pode ser sentido como um fracasso absoluto, levando ao abandono completo da meta. Esse ciclo de tentativa e desistência reforça a crença de incapacidade, criando uma barreira que impede a mudança genuína.
Jacques Lacan aprofunda essa análise ao introduzir o conceito do imaginário, sugerindo que muitas metas estão mais conectadas ao que acreditamos que “devemos” ser do que ao que realmente desejamos ou somos capazes de alcançar. Alguém pode, por exemplo, estabelecer como meta “ter o corpo ideal” porque associa essa imagem ao sucesso ou à aceitação social. No entanto, essa meta pode não refletir um desejo verdadeiro e pessoal, mas sim uma tentativa de se conformar a uma expectativa externa. Como resultado, a desconexão entre o desejo autêntico e o objetivo perseguido cria uma dificuldade em sustentar o esforço, gerando um sentimento de inadequação.
A psicanálise, ao explorar as memórias, experiências e narrativas pessoais, ajuda a identificar de onde vêm essas promessas e por que elas parecem tão difíceis de cumprir. Um exemplo prático seria o caso de alguém que promete economizar mais dinheiro, mas não consegue controlar os gastos. Uma análise psicanalítica poderia revelar que essa dificuldade está relacionada a vivências de infância, como uma sensação de privação ou a associação emocional de compras com conforto ou felicidade. Ao compreender essas raízes inconscientes, o indivíduo pode começar a reavaliar suas metas e redefini-las de maneira mais alinhada aos seus desejos reais e às suas possibilidades.
Essa abordagem não busca apenas resolver os sintomas (como o abandono de promessas), mas também transformar a relação da pessoa com suas metas e consigo mesma. Ao trazer à tona as tensões internas e os conflitos inconscientes, a psicanálise permite que o indivíduo se reconcilie com suas próprias expectativas, rompendo o ciclo de frustração e criando um espaço para mudanças genuínas e sustentáveis.
Já a terapia cognitivo-comportamental (TCC) aborda essa questão de maneira prática e objetiva. Muitas vezes, a dificuldade em realizar metas está associada a crenças disfuncionais e pensamentos automáticos. A TCC trabalha para identificar esses padrões de pensamento e substituí-los por crenças mais realistas e funcionais.
Uma das estratégias frequentemente utilizadas na TCC para promover mudanças concretas é o método SMART, desenvolvido por George T. Doran em 1981. O acrônimo SMART significa Specific (Específica), Measurable (Mensurável), Achievable (Alcançável), Relevant (Relevante) e Time-bound (Temporal, com prazo definido). Esse método ajuda a transformar metas amplas e genéricas em objetivos claros, específicos e alcançáveis, permitindo ao indivíduo monitorar o progresso e aumentar a probabilidade de sucesso.
Por exemplo, em vez de estabelecer como meta algo genérico como “ficar em forma,” o método SMART sugere metas mais detalhadas e realistas, como “fazer uma caminhada de 30 minutos, três vezes por semana, durante os próximos dois meses.” Essa abordagem traduz aspirações em ações concretas, ajudando o indivíduo a vencer barreiras emocionais e práticas. Na TCC, essa técnica é especialmente útil para pessoas que se sentem sobrecarregadas por objetivos vagos ou inalcançáveis, promovendo uma estrutura mais objetiva para a realização de mudanças significativas.
Se essa dinâmica de promessas não cumpridas é recorrente, pode haver um quadro subjacente, como a ansiedade ou a depressão, que interfere na capacidade de planejar e agir. Combinar abordagens psicanalíticas e da TCC pode ser especialmente eficaz. Enquanto a psicanálise ajuda a entender os conflitos emocionais e inconscientes que sustentam esses padrões, a TCC fornece ferramentas práticas para transformar desejos em ações concretas.
Assim, superar o ciclo de promessas vazias exige tanto um olhar profundo para o que motiva esses objetivos quanto estratégias reais para colocá-los em prática. Esse processo pode não ser simples, mas é profundamente transformador. Ao reconhecer as limitações e ao mesmo tempo criar metas viáveis, é possível construir um caminho mais alinhado com as próprias capacidades e desejos, rompendo o padrão de frustração e inaugurando um ciclo de realizações genuínas.
Considerações Finais:
Concluir um ciclo de promessas não cumpridas e transformar aspirações em realizações concretas pode parecer um desafio imenso, mas é absolutamente possível. O futuro, como Antoine de Saint-Exupéry nos lembra, é um projeto contínuo que construímos com nossas escolhas e ações no presente. Entender as dinâmicas internas que dificultam o cumprimento de metas, por meio da psicanálise, e aliar isso a estratégias práticas, como as fornecidas pela terapia cognitivo-comportamental, é um caminho que permite não apenas sonhar com um ano melhor, mas concretizá-lo.
Imagine como seria libertador reavaliar seus objetivos à luz de seus desejos autênticos, livres das pressões de expectativas externas ou ideais inatingíveis. E mais, pense na possibilidade de planejar cada passo com clareza, usando ferramentas como o método SMART, para transformar grandes sonhos em ações alcançáveis. Cada pequena vitória reforça sua capacidade de continuar, criando um ciclo positivo de realização.
Afinal, o que você faria diferente se soubesse que o próximo ano pode, de fato, ser o marco de uma transformação verdadeira? Essa jornada, como aprendemos, é menos sobre o destino e mais sobre a construção diária de quem queremos nos tornar. O convite está feito: o futuro começa agora, e ele é o reflexo das escolhas que você decide fazer hoje.
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Referências Bibliográficas
DORAN, George T. There’s a S.M.A.R.T. Way to Write Management’s Goals and Objectives. Management Review, v. 70, n. 11, p. 35-36, 1981.
FREUD, Sigmund. O Ego e o Id. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Petrópolis: Vozes, 2012.
LACAN, Jacques. Os Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 2009.
SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada. São Paulo: Vozes, 2020.
TÉBAR, Leonardo F. A Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática. São Paulo: Atlas, 2017.